Vandalismo Urbano reportagem MR + Galo







Jornal da Tarde





Prejuízo de R$ 4 milhões

É o custo estimado para limpar a Cidade este ano
MARICI CAPITELLI,
Parece uma praga na Cidade. Casas, muros, prédios, placas de trânsito, viadutos, pontes, passarelas, obras e até o Expresso Tiradentes, que ainda nem foi inaugurado, tudo está tomado por pichações. Nos últimos três meses do ano passado, a Prefeitura pintou 1.068 milhão de metros quadrados de muros públicos, o que equivale a 202 campos de futebol. O custo foi de quase R$ 1 milhão. A estimativa para este ano é gastar R$ 4 milhões só para limpar essa sujeira.
Para se ter uma idéia desse montante de dinheiro na administração pública, foi o mesmo valor gasto para a reforma da Praça da Sé. As intervenções, na Praça da República, por exemplo, custaram R$ 3 milhões. É dinheiro suficiente também para pavimentar 15,3 km de rua com 7,5 metros de largura cada uma.
“Limpar pichação é, literalmente, jogar dinheiro fora. Mas temos que fazer”, afirmou Andrea Matarazzo, secretário municipal da Coordenação de Subprefeituras. Ele admite que as pichações o incomodam muito. “Não acho que alguém possa considerar razoável que um grupo de pessoas imponham esse tipo de tratamento para a Cidade. É um absurdo. Não tem nada de heroísmo. É vandalismo”.
Pichadores reclamam
A pichação em algumas áreas é tanta que tem incomodado até mesmo os autores dessa poluição visual: os pichadores.
“Virou uma bagunça só. Tudo é agenda”, reclamou um pichador de 26 anos que está há 11 anos na ativa e é do grupo Peraltas Family, da Zona Sul. Agenda, quer dizer, um mesmo espaço pichado por várias gangues, ou melhor grupos, como eles preferem ser chamados. “Nos anos 90, a pichação era mais ordenada, agora cresceu a rivalidade”, explicou.
Há três meses, a Prefeitura tem utilizado os caminhões antipichação para limpar a sujeira. Cada uma das 31 subprefeituras contrata o serviço à medida que necessita.
A Subprefeitura da Vila Mariana, na Zona Sul, está no segundo contrato. A média de limpeza na região, onde vivem 330 mil pessoas mas tem uma população flutuante de 2 milhões , tem sido de 15 mil metros quadrados de muro por mês.
O subprefeito Fábio Lepique tem uma posicionamento duro contra os pichadores. “Esse tipo de ação não pode ser tratada como uma transgressão simples ou como uma contestação. Pichação é crime e os criminosos têm de ser punidos”, afirmou.
O artigo 163 do Código Penal prevê pena de um a seis meses de detenção ou multa ou prestação de serviços para a comunidade. Quando se trata de prédios públicos, a pena passa de seis meses a três anos. Normalmente, as questões são resolvidas no Juizado Especial Criminal. A dificuldade é flagrar. “As pessoas costumam dizer, coloca fiscalização. Mas fiscalizar como?”, questionou Andrea Matarazzo.
As gangues atuam durante a madrugada. “E quanto mais eles limpam, mas os pichadores gostam”, garantiu o integrante do Peralta Family. Mas o subprefeito da Vila Mariana pensa diferente. “Vamos vencê-los pela saturação. E estamos notando que tem dado alguns resultados.”
‘Fura-fila’ era um alvo disputado
O Expresso Tiradentes foi pichado por um único motivo: comemorar o nascimento do primeiro filho do pichador que pertence ao Peraltas Family, grupo considerado uma grife em matéria de pichação. “Na época, ainda era chamado de ‘fura-fila’ e era um alvo que todos os pichadores queriam, mas conseguimos primeiro”, contou o autor da pichação cuja “obra” ainda não foi limpa pela Prefeitura. Ele tem 22 anos.
O pichador confessa que os desafios acabaram, ou seja, tudo já foi pichado. Mas alguns pontos ainda são importantes. “Adoramos os trajetos de ônibus porque todo mundo vê. Já pichei muita estação de trem e de Metrô. E meu sonho era pichar todas.”
Entretanto, diz que com o crescimento do filho, está mudando de comportamento. Fica preocupado porque os meninos da comunidade onde moram o têm como um exemplo. Alguns nem sabem ler, mas são capazes de decifrar as pichações. “Já me arrependo de ter pichado muita casa limpinha. Deveria ter me concentrado nos prédios abandonados.”
Embora esteja trocando a pichação pelo grafite, diz que ainda tem recaídas. Há pouco tempo, voltou a pichar para reclamar dos R$ 2,30 da passagem de ônibus. Um dos seus sonhos é que a pichação fosse feita apenas em frases de contestação e não mais com símbolos.
Na região periférica onde vivem os integrantes do Peraltas Family, existem pelo menos outros 30 grupos de pichadores, num total aproximado de 300 crianças e adolescentes. Para ele, não adiantam as alternativas propostas pela Prefeitura de trocar a pichação por grafitagem. “Grafitagem é coisa de rico. Pichadores da periferia não têm dinheiro para comprar as tintas da grafitagem. Não é isso que vai resolver.”
Guilherme Coelho, coordenador de Juventude da Secretaria Municipal de Participação e Parcerias, diz que no ano passado, a partir do Fórum da Arte de Rua, foram criadas as Galerias ao Ar Livre. São cerca de 150 jovens que grafitam espaços públicos autorizados. “Eles se tornaram artistas.”
De acordo com Guilherme, esse trabalho não acaba com a pichação. “Mas fazemos um trabalho de formiguinha e reduzimos os conflitos entre os jovens e o poder público.” Ele acredita que os pichadores têm que ser punidos com a recuperação do espaço. “Mas ir para a cadeia não é a solução.”
Dava para pintar 202 campos de futebol
Nos últimos três meses do ano passado, a Prefeitura pintou 1.068 milhão de m2 de muros públicos.
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